Uma época de fé

Fadeaway8

Hoje não irei falar vos da actualidade da NBA ou tentar dissecar as notícias que dali chegam após a final. Irei falar vos sobre uma época anterior aos “likes”, “posts” e “tags” e até “blogs”, quando ainda o nosso amado basquetebol respirava competição e espectáculo com pavilhões cheios.

Dez anos passaram desde que uma equipa em que poucos acreditaram no inicio, celebrou a conquista do titulo nacional da liga portuguesa e a taça de Portugal, para um clube há muito tempo longe dos altos voos, Clube Atlético de Queluz. Falo da época 2004/2005 da já “defunta” LCB(Liga de Clubes de Basquetebol), recheada de equipas com um aparente poder financeiro que conseguia persuadir jogadores estrangeiros de qualidade inegável. A competição não tinha vencedor antecipado, ou jornadas cruzadas com divisões inferiores. Eram dias de exposição mediática para o basquetebol e ainda que os sinais para a obscuridade atual, já fossem evidentes, o espectáculo não defraudava o público.

Em Queluz e após perder a final da época anterior, a equipa não era vista como favorita, outros candidatos com nomes mais sonantes e maior poder financeiro estavam a frente nas escolhas dos entendidos.

Ainda que com alguns obstáculos fora do campo(apoios financeiros), a equipa iria jogar nas competições europeias, como tal muitos temiam consequências negativas poderiam fazer-se sentir na competição doméstica. O sorteio ditou um grupo complicado, Pamesa Valência(ESP) com jogadores conhecidos na Europa e no mundo. Nomes como, Igor Rakocevic(Sérvia), Fabricio Oberto(Argentina), que posteriormente seguiram para a NBA, contava ainda com o “bad boy” da Sérvia Tomasevic. Orientados pelo actual treinador do Real Madrid Pablo Laso. Os franceses do Chalon, com Thabo Sefolosha(depois seguiu para a NBA) e o americano John Best como figuras principais. Os Italianos do Varese, 4 vezes campeões da Europa todo um histórico do continente, orientados pelo então treinador campeão olímpico Argentino Ruben Magnano. Os detentores do troféu na altura, os Israelitas do Hapoel de Jerusalém, com um plantel de luxo. Completando o grupo, a Ovarense foi convidada após a desistência do S.L. Benfica.

A primeira análise não foi optimista para muitos, ou até de uma tarefa impossível outros pensaram. Assumimos o desafio com a coragem para descobrir a verdadeira identidade da equipa, sabendo que poderia não vencer e ainda assim tentar. A equipa venceu o Pamesa Valência(casa), o Hapoel Jerusalém(casa) e a Ovarense(dois jogos), com o Varese e Chalon, derrotas no prolongamento comprovariam a sua capacidade para de cabeça levantada jogar contra equipas assumidamente mais fortes.

Sabendo que a maior barreira para o sucesso é o medo de falhar, cada treino era um jogo de playoff com intensidade máxima, a equipa valia mais que a soma das suas partes. O grande segredo da equipa, agora podemos revelar, era a capacidade de trabalhar e tentar controlar o seu futuro e não deixar que caísse no vão de terrenos instáveis e nas mão da “sorte”, esta é uma aliada cruel que não aparece quando queremos.

Carácter, determinação e uma insuperável vontade de vencer, personalidades fortes e líderes admiráveis, assim era composta a equipa. Um começo inesperado em casa, carregou ainda mais as nuvens de dúvidas que pairavam á volta da equipa. Na jornada seguinte seria dado o primeiro passo na caminhada de 27 jogos consecutivos a vencer, na minha opinião um recorde ainda por bater. Número conseguido sem jornadas cruzadas, com uma competição de imensa qualidade e com competições europeias pelo meio. A equipa foi cimentando uma identidade forte e mentalidade de guerreiros que mesmo perante a inevitabilidade da derrota, sabia que a vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o seu preço. Perdendo os dois primeiros jogos do playoff em casa, essa mesma identidade não permitiu que o sonho terminasse e a derrota não mais apareceu.

O timoneiro da equipa, Alberto Babo, dono de uma imensa experiência como jogador e treinador, com títulos para comprovar o seu saber. Geriu uma equipa com jogadores de personalidade forte, com fome de vitória e com muito para provar, navegou os conflitos normais de uma temporada longa, mostrou autoridade e também soube ler as mensagens de um balneário com o coração dos campeões. A seu lado estavam outros dois mentores desta caminhada, cada um da sua forma conseguiram deixar a sua marca no sucesso final da equipa. Jorge Fernandes, as palavras caem no vão para descrever o respeito e admiração que sinto por este senhor. Desde os meus 13 anos tem a sua impressão digital na minha formação com jogador , obrigado por tudo. Nuno Galvão, calmo e com um poder acutilante de análise, eram também integrante da cúpula que liderava a equipa.

Filipe Gomes era o capitão, jogador experiente e pilar da estabilidade do balneário, atirador exímio e habituado a vencer desde a formação. Mesmo não sendo aos olhos de muitos como jogador decisivo, o seu contributo dentro e fora do campo foram cruciais.

Francisco Rodrigues, um base fisicamente imponente, defensor absolutamente dominante, com mentalidade de ferro, um líder admirável  e respeitado por todos. Demasiado agressivo aos olhos de alguns, foi uma inspiração poder treinar e jogar a seu lado.

Armando Costa, um jogador á beira da explosão do seu talento era o outro base, seguindo o seu mentor Francisco Rodrigues, uma ameaça incontrolável a defender e a atacar. Tornou-se um jogador dominante e a sua carreira pode comprovar isso.

Tomaz Rodriguez chegou já em Dezembro, e após tentativas falhas veio suprir uma lacuna da equipa, o tiro exterior. Atirador impressionante, desabrochou para um nível quase imparável dentro do jogo da equipa, era a arma que faltava.

Pedro Afonso o mais jovem da equipa, um lutador incansável que mesmo sabendo os minutos eram reduzidos ou escassos, esteve sempre de cabeça erguida e mostrar o seu apoio.

Leroy Watkins é o melhor poste que já jogou em Portugal. A sua capacidade de dominar os adversários, e a leitura de jogo, assim como não ter um gota de egoísmo em campo, corroboram a minha afirmação. Aqueles que compartiram o campo com ele podem comprovar o quanto ele impactava o jogo, mesmo contra oponentes com Fabricio Oberto ou Tomasevic o seu talento era evidente. Um imenso jogador!

Dusan Macura, poste Sérvio, dono de compleição física assinalável, não permitia ainda a Leroy Watkins relaxar no treino, tal era a sua intensidade, jogador emotivo mas de enorme coração, foi importante na caminhada da equipa.

David Vik, seria talvez aquele que no inicio mais dificuldades teve para assimilar a faceta de guerreiros da equipa, dono de uma boa técnica individual, permitia a equipa moldar a estratégia quando necessário. Bom lançador, tentava cobrir a sua menor vocação para luta na defesa com bons ressaltos.

Carlos Andrade, imenso dentro e fora do campo, essa foi a sua época de afirmação. Personalidade forte, carácter intenso, defensor poderoso, jogador de equipa e líder nato a sua preponderância na equipa foi evidente aos olhos de todos. trabalhador incansável, sempre a tentar melhorar, tornou-se uma dor de cabeça para quem o enfrentou, quer nas competições europeias onde brilhou, quer em Portugal onde dominou. A sua liderança contagiante permitiu-lhe continua o trilho do sucesso por onde passou.

Miguel Miranda é o melhor extremo poste de sempre em Portugal. Um dos mais inteligentes jogadores que já vi, com uma mentalidade de vencedor, jogador de equipa nato e ainda hoje domina completamente o jogo. É um jogador imenso!

Miguel Caeiro era quem cuidava das mazelas da equipa, e era mais que um fisioterapeuta, também ele era um guerreiro.

Amanhã dia 21 em Queluz, uma singela homenagem será feita para a equipa, entrar no pavilhão passados estes anos, será emocionante. Aquele era o nosso coliseu, lugar de luta e como gladiadores demos tudo sem certeza de aplauso no fim.

Os outros campeões seguiram-se, ainda que sem atingir o mesmo patamar, essa é apenas a minha opinião. A validação de outros não é fator para essa minha constatação, passam agora 10 anos, outros 20 podem passar e seremos sempre campeões!

2004/2005 🏆🏆🏆

Fadeaway8 out!

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Campeões

Fadeaway8

Os Golden State Warriors, exactamente 40 anos depois, voltam ao topo da NBA, ao vencer ontem no jogo 6 os Cleveland Cavaliers. A previsão aqui no vosso Fadeaway8, era que Lebron James iria brilhar a grande altura mas não iria ser campeão.

O poder coletivo dos Warriors prevaleceu, perante a brilhante performance individual de James. Nos playoffs da temporada passada, os Warriors foram eliminados no jogo 7 na primeira ronda pelos Los Angeles Clippers. Mark Jackson, sendo o treinador, foi a primeira vítima ao ser demitido do cargo. Steve Kerr, até então comentador televisivo mas, com cinco anéis de campeão como jogador, foi chamado para a sua primeira aventura como treinador, um risco considerável.                       A equipa tinha peças individuais de imensa qualidade, Step Curry e Klay Thompson a encabeçar a lista. Há três anos atrás, e devido a constantes lesões nos tornozelos, o futuro de do jovem atirador Step Curry, estava em risco e falou-se do fim abrupto da sua carreira. Alterou a forma de trabalhar, fez o que era necessário para estar no patamar atual, MVP da época regular e sem dúvida, o melhor lançador de sempre.

Para aqueles que por vezes se deixam levar apenas pelos números e brilhantismo individual, os pequenos detalhes que ditam as vitórias, passam sem importância.  É muito importante aprender a vencer, antes de enfrentar os desafios que a estrada para o sucesso tem preparados para aqueles que desejam ser campeões. Steve Kerr, arriscou desde o primeiro dia, Andre Igoudala e David Lee dois “All Stars”, sairam do cinco inicial para espanto geral, aceitaram esse novo papel, não como uma despromoção mas como sacrifício para chegar ao anel. Sabemos como a cultura atual da NBA esta virada para o individual, o sacrifício para o coletivo já não está na moda, e não é possível vencer sem ele. Curry merecia o prémio final, de MVP da final sem dúvida ainda que um pouco perdido nos primeiros três jogos, mas não fica de todo mal a um jogador, Andre Igoudala, que deu tudo para defender o indefensável(James), e saí do esquecimento geral para o palco dos grandes, tudo devido ao sacrifício pessoal em prol do bem coletivo.

Steve Kerr, ganhou o risco, e também soube aproveitar o que Mark Jackson deixou, implementou a cultura de vitória e do jogo coletivo  e o resultado é o desfile de campeões da NBA. Os Warriors vão dar cartas no futuro próximo, podem não ser campeões sempre mas a cultura está lá e isso por si só é um dos pilares para o sucesso.

Lebron James, perde a sua quarta final, mas esta com a condicionante de ter três jogadores importantes, Kyrie Irving, Kevin Love e Anderson Varejão lesionados. Desde o início da temporada não coloquei os Cavaliers no lote de candidatos, porque um grupo de individualidades não forma um coletivo. James foi espetacular, mas esse é o problema, “ele” e não “eles”, foi o factor.

Números absolutamente impressionantes, 215 pontos, 79 ressaltos, 53 assistências, 21 turnovers, com 78/196 em lançamentos de campo, em 274 minutos de jogo. Fez tudo mas não chegou, certamente muitos dos que o comparam com os melhores têm mais um argumento, entendo isso. As comparações como os melhores de sempre são sempre injustas… Mas esse será um tema para um próximo fadeaway8.

Podemos questionar, o resto da equipa dos Cavs, mas se vencer é para todos, a derrota não pode ser partilhada, é um peso a ser levantado por todos, incluindo Lebron James.

Fadeaway8 out!

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Definição de um legado

Fadeaway8

Analisando meticulosamente o jogo 5, procuro uma luz ao fundo do túnel, para a equipa de Cleveland. A minha análise trouxe ainda mais duvidas. Lebron James, ainda que com todo o seu brilhantismo não conseguiu aguentar o peso da equipa até ao fim do jogo.

Lebron e Tristan Thompson, marcaram 35 pontos na segunda parte, o resto da equipa… 6 pontos, 19-7 foi o parcial para os Warriors nos últimos 5 minutos. Ser brilhante não chega, o desgaste de James é notório, percentagens de lançamento baixas assim como o volume de tentativas, não deixam dúvidas.

Lamentavelmente os personagens secundários, foram irremediavelmente expostos. O trio formado por, JR Smith, Iman Shumpert e Mathew Dellavedova conseguiu, 29 pontos, 12 ressaltos e 6 assistências, pouco! Esta a ser penoso ver esta incrível escalada, ao monte Olimpo por parte de Lebron James, sem qualquer suporte da equipa.

Todo esta genialidade individual de James, quase que eclipsa o que Stephen Curry esta a fazer. Ja solto das grilhetas que o manietavam, permitiu aos seus companheiros levantar o manto obscuro da frustração e voltar ao caminho do sucesso.

A contribuição do elenco de suporte de Golden State tem sido de qualidade,  e nos últimos dois jogos nao falhou. A liderança de Step Curry é menos exuberante, que a de Lebron, mas não menos efectiva, e de momento apenas Curry é seguido.

James marcou ou assistiu em 81% dos 91 pontos dos Cavs no jogo 5, recorde histórico. É um feito agridoce, devido ao resultado final, e a leitura não é, na minha opinião,  lisonjeira para os seus colegas. Alguns analistas querem o troféu de MVP da final,  nas mãos de Lebron James mesmo em caso de derrota.

Jerry West em 1969, a liderar os Lakers,  perdia mais uma final contra os Boston Celtics. Já não era novidade, para o agora logótipo da NBA. Foi eleito MVP da final,  para surpresa geral, e assim como Lebron, West brilhou individualmente mas perdeu no jogo 7 e em casa. Discordo de uma hipotética atribuição do prémio a um jogador,  que não vença. Seria passar uma mensagem contraditória,  para os mais novos. Espero que Jerry West continue, como o único MVP das finais mesmo perdendo.

Hoje acredito que hoje a noite, os Cavs vão empatar a série, mas o jogo 7 será de consagração para os Warriors.

A questão é saber como iremos definir o legado de James, se perder a sua quarta final.

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Fadeaway8

A versão blog do Fadeaway8 finalmente chegou, agradeço aos que sempre motivaram esta mudança.

Os fãs dos Cavaliers, certamente tiveram uma pequena dose de realidade após o jogo 4. Como havia referido antes, não é possível Lebron James manter o mesmo ritmo ao largo desta série, ainda que secretamente, saibamos que ele é um cyborg criado em laboratório.
Já com uma carga séria de minutos acumulados, ao largo dos playoffs, notou-se uma clara fadiga no jogo de Lebron, ainda assim esteve perto de mais um triplo-duplo. Certamente ele não irá utilizar, a fadiga como escudo para o que vimos no jogo 4.

Steve Kerr teria mesmo de efetuar algumas alterações, até ao jogo 4 estava a viver na ditadura de Lebron James. Concedeu ao “King”, o domínio do ritmo de jogo, e por consequência que este galvanizasse alguns jogadores da sua equipa até aqui normalmente sem protagonismo.
Steph Curry esteve com grilhetas nas mãos e pés, e mesmo até condicionado psicologicamente, devido á defesa sufocante de Mathew Dellavedova. Condicionando Lebron James, Steve Kerr forçou os outros que por ele são alimentados, a tomar decisões e estes foram expostos no ataque, Iman Shumpert e JR Smith assim como o novo héroi “canguru” Dellavedova. Mozgov brilhou mas não por dominar, mas sim porque a manta que cobriu os outros o deixou solto. Estes actores normalmente secundários foram chamados ao palco desta encenação, e até ao jogo 4 haviam atuado sem pressão acrescida.

Os Golden State Warriors, são uma equipa menos agressiva que os Cavs, isso já sabemos, a sua motivação depende em larga escala de ver a bola a entrar no cesto. Dominam os adversários devido ao rolo compressor de lançamentos, conduzido por Steph Curry e Klay Thompson. A lesão de Kyrie Irving, ainda que inconscientemente, baixou os níveis de intesidade do Warriors, a ideia de enfrentar Dellavedova, parecia menos intimidante, e demoraram três jogos a mudar o “chip”, erro número 1.

Estando na final da NBA, as oportunidades para subjugar o oponente, estando este debilitado não abundam. Sempre acreditei que para vencer, as equipas tem de estar preparadas para colocar “o pé na garganta” do adversário, sempre que possível, isto claro que não no sentido literal meus caros. Digo sim no sentido, de não dar qualquer ânimo, quando o adversário está vergado e sem soluções, os Golden State deram vida a Cleveland e a jogadores que normalmente não são protagonistas, erro número 2.

Steve Kerr, estava relutante a alterar as rotaçãoes da sua equipa, Harrison Barnes não esta a ser factor ao contrário de Andre Igoudala, e Andrew Bogut desapareceu sem deixar sinal, não sei veio a Lisboa festejar os Santos populares, mas ninguém sabe onde esta. Finalmente algumas alterações sortiram efeito, o resultado final é um pouco enganador, mas agora o estado anímico dos Warriors melhorou e isso pode ser perigoso para os Cavaliers. Ficou claro mais uma vez, que apenas um Lebron ao nível dos melhores de sempre do jogo, irá conduzir a equipa ao anel, jogando mais de 40 minutos e marcando pelo menos 40 pontos e ainda assim pode não ser suficiente.

O jogo 5 será uma batalha de vontades, uma equipa com o seu líder desgastado e outra que ganhou nova vida. Lebron e Curry têm a responsabilidade de fazer com que continuemos com sono, na manhã seguinte ao jogo, teremos jogo 7 preparem-se.

Cá estamos versão Blog, Fadeaway8 out!

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