A força da bandeira!

Para a maioria que escolheu não votar no passado domingo, acreditar só é possível quando tudo se materializa, são os seguidores do “ver para crer”. Os motivos que retraem a coragem de pensamento, estão guardados nas pesadas bagagens cheias de velhos conceitos, que muitos carregam até hoje. A eleição de três deputadas negras, soltou os diversos preconceitos raciais que toldam a visão da maioria da população em Portugal. Esses preconceitos em muitos casos, só estão presentes nos dias de hoje, porque foram passados de uma geração para a outra, como se de uma receita de família se tratasse.

Recordo-me vivamente de celebrações exageradas, de vitórias em diversos palcos da vida. Sempre que uma filha/o, neta/o ou bisneta/o de Portugueses atingia o sucesso, fosse em que campo fosse. Muitas vezes esses feitos eram celebrados com a bandeiras das quinas e a do país que representava orgulhosamente empunhadas. A cantora Nelly Furtado é um exemplo, assim como existem outros. 

Deparei-me com exemplo que sem sobra de dúvida merece ser destacado. Manny Santos nasceu em Portugal, mas em 1974 com o país no meio de uma revolução política e social. Uma economia destruída, um país a procura da sua identidade, e com milhares de jovens a combaterem em África, numa guerra sem motivo aparente. Toda a sua família procura “abrigo” nos Estados Unidos.

Chegou a presidente de câmara de uma cidade (Meriden). O ano passado foi candidato a Câmara dos representantes. Seguidor assumido de Trump, Manny acredita que “a violência e má economia, não são razões legitimas se procurar asilo” ou (a minha favorita) “devem ficar no país e conserta-lo” e remata para golo com “esses problemas não se vão resolver se todos fugirem”. O Manuel agora Manny Santos, perdeu as eleições contra uma candidata… negra! Ele que até dizia entender os desafios da emigração, por isso era o candidato ideal. 

A nossa história pessoal é singular, mas os nossos caminhos são partilhados, por muito que os defensores do ódio não o queiram aceitar.  Durante demasiadas gerações a ideia de um lusitano puro, profundamente enraizada na cultura e até na religião, criou um medo a tudo o que é diferente. Pois esse mesmo “medo” é sentido pelos franceses, suíços, alemães, e outros que menosprezam os emigrantes portugueses e as suas raízes. Se condenam esta linha de pensamento lá fora, como podem apoiar os que pensam assim aqui em Portugal?

Se a noção de Portugalidade está ligada a cor da pele, então deixemos de celebrar aqueles que em nome de Portugal conquistam títulos internacionais. Mas cuja melanina é acentuada, e os traços não preenchem os requisitos da Portugalidade. 

Mais que deputadas negras, Romualda Fernandes (vive em Portugal desde 1968), Beatriz Dias, (vive em Portugal desde 1975), Joacine Moreira, no país desde dos seus 8 anos. Mais que a sua história pessoal, elas são mulheres eleitas para a assembleia da república. As suas convicções não têm cor ou credo religioso, mesmo que já lhes tenham sido colocados rótulos para apaziguar o desconforto causado pela sua eleição. Deixemos então de falar de bandeiras, para fugir ao que interessa verdadeiramente.

Prometo que vou voltar a falar da NBA, mas ainda estou em modo pre season.

Fadeaway8 out! #voucomerconguitosagora

 

 

 

 

 

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Obrigado Joacine!

A verdadeira liberdade é vivida sem medo! Ouvi estas palavras de Nina Simone. Hoje muitos estão encarcerados a céu aberto, com os seus dispositivos de ultima geração nas mãos. Têm receio do que outros vão pensar, cada vez que publicam seja o que for em uma qualquer rede social. Têm receio de serem julgados pela sua opinião.

Cada vez que surge algo diferente, fora do “normal”, que ataque os seus receios mais profundos que suportam as suas convicções. Como os mortos vivos que aparecem no video “thriller” de Michael Jackson, começam a sair das catacumbas do mundo virtual, para atacar os vivos.

A política em Portugal, sempre foi “mais do mesmo”, rosa ou laranja, esquerda ou direita, blocos ou centros. Caem os ramos das árvores mas as raízes estão lá, sempre fortes e estéreis em frutos para a sociedade.

Pela primeira vez na minha vida, vejo uma candidata negra a deputada a Assembleia da República, seu nome Joacine Katar Moreira. Recentemente em uma entrevista, foi julgada pela sua gaguez. Na realidade foi julgada por outros factores, a cor da sua pele, porque é mulher, o seu turbante e pelo facto de ser completamente diferente do “normal” cenário político em Portugal. Quebrou o velho molde, assustou os conformistas, e criou uma nova realidade. Se a sua gaguez põe em causa a sua competência, na opinião de muitos, então vamos analisar os actuais políticos em Portugal, aí sim vamos rir.

A sua coragem, não precisa de validação de seja quem for, menos ainda da minha. A sua coragem não é para ser aplaudida ou condecorada. Ela enfrenta o julgamento dos que receiam mudanças, confortavelmente deitados na planície árida e sem esperança que é a política nacional.

Não estou a dizer que ela vai salvar o país, ou mudar tudo de repente. Mas já venceu, porque algures uma menina ou menino viu a sua entrevista, e com ou sem gaguez, passará a acreditar que é possível ser mais que os limites impostos pelos que não querem ver nada diferente. Não irá agradar a esmagadora maioria, mas a sua contribuição é indiscutível.

O que fazemos por nós, irá desaparecer com o nosso corpo, o que fazemos pelos outros irá perdurar para lá dos nossos dias de vida. Quando mostramos quem somos, arriscamos nos a ficar expostos. Tentar algo diferente é arriscar o erro. No entanto o maior erro na vida, é nunca arriscar.

Obrigado Joacine!

Fadeaway8 out!

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